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quarta-feira, 2 de março de 2011

Como pode ser observado o Senhor como cumpridor de Sua aliança com Israel, em Esdras e Neemias?


Feito em parceria com a seminarista Anydarling Lima.
 
INTRODUÇÂO
Vemos, a partir do capítulo 12 do livro de gênesis, que Deus escolheu um homem, Abrão (posteriormente chamado por Deus de Abraão), através de quem formaria um povo especial e separado exclusivamente para Si (Ex 19.5; 1 Cr 17.22). Após longo tempo, que passa pelo período dos patriarcas, pela escravidão no Egito, êxodo e peregrinação no deserto, conquista da terra de Canaã, período dos juízes e o período dos reis, vemos o período do cativeiro.
Após o reinado de Salomão o reino é dividido por Deus. O Reino do Sul ficou composto pelas tribos de Judá e de Benjamim, enquanto o Reino do Norte, pelas outras dez. O Reino do Norte acabou sendo conquistado, para não dizer dizimado, pelo Império Assírio. Por sua vez, o Reino do Sul foi conquistado pelo Império Babilônico (2 Cr 36.15-21). Este império levou cativos muitos judeus para a Babilônia. Neste contexto, temos, por exemplo, a história de Daniel.
Contudo, fora profetizado pelo profeta Jeremias que este cativeiro (babilônico) duraria setenta anos e então Deus traria seu povo de volta (2 Cr 36.22, 23; Jr 25.11; 29.10; Dn 9.2). Parte deste contexto de retorno do povo de Deus e reestruturação de Jerusalém está registrado nos livros de Esdras e Neemias. Vamos tentar abstrair destes dois livros elementos que nos mostrem como o Senhor Deus cumpriu Sua aliança firmada com este povo, Israel.

Como pode ser observado o Senhor como cumpridor de Sua aliança com Israel, em Esdras e Neemias?

O apóstolo Paulo, em 2 Tm 2.13, declara algo que continua até hoje sendo alvo de muitas interpretações errôneas, pois diz, “se somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo.”[1] Entendo que o texto é muito claro quando remete ao alvo da fidelidade de Deus: Ele mesmo, não nós. Isso nos revela o porquê de Deus cumprir suas promessas, apesar dos pecados dos homens. Sim, Ele mantêm e cumpre Ele mesmo Sua palavra para que Seu eterno, perfeito e soberano propósito seja cumprido.
É isso que vemos acontecer nos registros dos livros de Esdras e Neemias[2]. Deus castigou o seu povo com a escravidão por causa dos pecados destes, mas seu plano tinha que continuar e sua vontade, prevalece, afinal de contas, seria de Israel que nasceria o Redentor do mundo[3].
 Vejamos, portanto, alguns aspectos que podemos observar acerca do Senhor cumprindo Sua aliança:
1.          Deus moveu o coração do Rei:
Vemos já no primeiro versículo do livro de Esdras que Deus, para cumpri seu propósito revelado à Jeremias, “despertou o coração de Ciro, rei persa” (ver Is 45.1-4). Ciro redigiu uma proclamação autorizando o povo judeu à voltar à Jerusalém, ordenando também que os que viviam em Jerusalém e nas regiões próximas deveriam dar a eles muitos bens como oferta. Também ordenou a reconstrução do templo de Jerusalém. Da mesma forma vemos Neemias, copeiro[4] do rei persa, que, após tomar conhecimento da situação de Jerusalém e de seus habitantes, ora ao Senhor por vários dias. Certo dia se apresentou triste na presença do rei, o que poderia ser punido com a morte. Contudo, apesar de o texto não declarar explicitamente, vemos que foi Deus quem pôs o favor do rei e da rainha à Neemias.
Não é a primeira vez que vemos a revelação bíblica de Deus movendo o coração de governantes a fim de beneficiar Seu povo e cumprir Seu propósito. Da mesma forma vemos o próprio Deus movendo o coração de Faraó (Ex 4.21; 7.3,13; 14.4,8; 14.17). Em muitas outras passagens podemos comprovar que Deus é aquele que realmente governa o mundo (Is 19.2; 45.7; Ez 32.10).

1.1.        Aplicação: O bom testemunho
A aliança feita com o povo escolhido de Deus, os judeus, foi ampliada a nós, os gentios pelo imensurável amor de Deus.  Na história de Neemias ver-se Deus movendo o coração de um rei incrédulo para cumprir seus propósitos, entretanto, Ele o fez porque seu servo Neemias tinha um bom testemunho diante do rei, ele era uma pessoa de inteira confiança, seria improvável Neemias ter sido usado por Deus se ele não gozasse de uma vida integra diante daquela sociedade. Da mesma forma os cristãos hodiernos devem zelar pela sua integridade moral, para que possam ser um canal de benção usado por Deus.
Características morais de Neemias:
·       Integridade;
·       Confiabilidade;
·       Responsabilidade;

2.    Deus moveu o coração do seu povo
Vemos em Ed 1.5 que o próprio Deus tocou o coração de pessoas de seu povo para que estes se dispusessem a ir à Jerusalém e reconstruir o templo, bem como aqueles que não voltaram, se dispuseram a ajudar fazendo doações.
Para Schultz, “a oração registrada em Ne 1.5-11 representa a essência da intercessão de Neemias durante este período de luto e choro”. Neemias lembrou dos pecados do povo contra o Senhor e da aliança deste com seu povo. É importante notar que é esta aliança que é evocada quando pede ajuda de Deus para cumprir o propósito de restaurar Jerusalém. Neemias 1.6 registra que todo o povo estava se dedicando ao máximo, de dia e de noite, de tal forma que conseguiram restaurar os muros em cinqüenta e dois dias (Ne 6.15).
Essa força e denodo são postos no homem pelo próprio Deus (E 15.12; Sl 18.2; Ef 6.10).

2.1.        Aplicação: Disponibilidade para Deus
O propósito de Deus é abençoar o seu povo, porém, para que isto aconteça o cristão deve ter um coração quebrantado diante de Deus, pois, só assim ele poderá ouvir sua voz e entender o seu querer. Os judeus estavam sem pátria, sem templo, mas, não sem Deus, naquela pátria distante mesmo em meio a tanta idolatria ainda havia no coração daquele povo disponibilidade para Deus.
Assim Deus o Senhor, pode tocar nos corações daqueles judeus e os conduzir de volta a Jerusalém, para reconstruírem a cidade.
Características espirituais do povo de Deus:
·       Obediência;
·       Disponibilidade.

3.    Deus cobrou conserto
Vemos também que, apesar de Deus ser o verdadeiro responsável pela manutenção da aliança, isso não quer dizer que os homens não tenham responsabilidades. Vemos em Esdras e principalmente em Neemias a necessidade de muitas reformas que deveriam ser realizadas, pois só poderia haver restauração da cidade e da comunhão com Deus se o povo voltasse a se guiar pelos seus mandamentos.
Dentre os aspectos que observamos podemos destacar a exploração dos ricos para com os pobres. Estes, para pagar os impostos e para adquirir os víveres tinham que pegar dinheiro emprestado à altos juros. Não podendo pagar, suas terras eram tomadas e seus filhos viravam escravos para pagar a dívida. Então Neemias proibiu a usura e restabeleceu o ano sabático e do jubileu[5] (Ex 21.2; Lv 25.10). Isso ocorreu para que não houvesse abismo social, de forma que de um lado houvesse famílias muito ricas e do outro, famílias muito pobres. Também para que lembrassem que a terra pertence à Jeová.
Também foi ensinada a lei ao povo[6]. Eles deveriam ter conhecimento dos da lei que regia a aliança com Deus, inclusive na observância das festas anuais e do sábado.
Esdras se deparou com um quadro em que até muitos sacerdotes haviam casado com mulher estrangeiras. Foi necessário que todos despedissem suas mulheres e seu filhos frutos dessa união para que a pureza fosse mantida, além de preservar Israel de se afastar da lei do Senhor e mesmo cair na idolatria, como no reinado de Salomão (1 Rs 11.1-4). Ellisen (1991) observa que as estrangeiras de quem deveriam se divorciar provavelmente eram esposas de casamentos posteriores ao casamento com judias, o que também visaria proteger o futuro da linhagem pura. Além disso, não quiseram qualquer aliança com os samaritanos, que estavam miscigenados e com formação religiosa eclética. Era tempo de voltar à lei do Senhor e criar identidade de povo de Deus.

3.1.        Aplicação: Fidelidade a Deus
Esdras foi o líder espiritual daquela maravilhosa obra, a reconstrução de Jerusalém, juntamente com Neemias ele foi responsável por uma mudança radical na vida do povo de Deus, pois muitos deles haviam caído na idolatria e abandonado os ensinamentos do Senhor, casando-se com gentios e fazendo o que era mal diante de Deus. Para que Jeová voltasse a operar maravilhas em Israel era necessário que todos voltassem o coração para Deus, pois Ele não divide sua glória com ninguém (Is. 42.8), era necessário que Israel voltasse a ter fidelidade com Deus.
O povo de Deus deve servi-lo de todo coração, e para isso a fidelidade ao Senhor é indispensável, os altares espirituais devem ser concertados para que Deus permaneça a habitar em nós.


CONCLUSÃO
          Vemos nesta breve abordagem do livro de Esdras e Neemias que a aliança que Deus firma com o homem é garantida por Ele mesmo. O próprio Senhor quem leva a cabo seu projeto, apesar dos homens. Seu plano de enviar, por meio de Israel, Jesus, o redentor, que haveria de reconciliar a criação com Deus, não seria frustrado, mesmo que seu povo se desviasse de seus preceitos. O próprio Deus cumpriria seus propósitos eternos de acordo com sua infindável sabedoria.
          Por outro lado, o fato de Deus ser a própria garantia de cumprimento da aliança não exime os homens de responsabilidades diante dEle e uns dos outros. Deus requer integridade de seu povo.
Verificamos a instauração de reformas sociais, econômicas, políticas, administrativas, urbanas e religiosas, cuja discussão não dispõe de espaço suficiente neste trabalho acadêmico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SCHULTZ, Samuel J. A história de Israel no Antigo Testamento vida nova: São Paulo 253 p.
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico do Antigo Testamento; Gênesis a Neemias Vol 1  CPAD 321 p.
ELLISEN, Stanley A. Conheça melhor o Antigo Testamento Vida: São Paulo trad. Emma Anders de Souza Lima 1ª ed. 1991 371 p.
PACKER, James I.; TENNEY, Merril C.; WHITE JR., William. O Mundo do Antigo Testamento Vida: São Paulo 1ª ed. 2002 105 p.


[1] Os textos bíblicos utilizados são da Nova Versão Internacional.
[2] Apesar desse nome, originalmente, ambos são postos como um livro só, cuja autoria é hegemonicamente atribuída à Esdras.
[3] A palavra utilizada em Jo 3.16 para “mundo” é “cosmos”, revelando o sentido de toda a criação sendo redimida.
[4] Quanto ao ermo original, não se tem certeza se
[5] Aqueles que tornavam-se escravos por dívidas deveriam ser libertados ao no sétimo ano, bem como as terras vendidas deveriam retornar aos proprietários no qüinquagésimo ano.
[6] Alguns estudiosos defendem que teria sido lido apenas Deuteronômio, que expressamente tem a ordenança de ser lido em voz alta.

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