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Este é nosso para falar do que gostamos. A vida, os amigos, teologia, mundo eclesiástico, poesia, música. E eventualmente, do que não gostamos. Desvios da igreja, da doutrina, pósmodernidade...

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O que se dizer quando se perde um amigo?


O que dizer quando se perde um amigo? E quando se trata do seu melhor amigo? A reposta? Não sei. Não sei mesmo. Digo isso porque ontem, 01/05/2012, perdi meu melhor amigo.
            Conheci Oslan quando passei a me congregar na Missão Evangélica Pentecostal do Brasil (MEPB) de Jardim Floresta, na Zona Norte da cidade de Natal, em novembro de 2006. Esse mineirinho se tornou muito especial para mim no decorrer do tempo.
            Nós tocávamos juntos no grupo de louvor da igreja. Ele era o baterista, eu, o tecladista. Tornamo-nos muito próximos com o passar do tempo. Estávamos sempre juntos: nos ensaios, nos cultos, nos lanches, jantares, nas rodas de bate-papo.
Minha aproximação com o presbítero João “da Bênção” tornou ainda mais próxima nossa convivência. Oslan namorava (e recentemente noivara) com Ruth, filha de João, e eu vez por outra estava com minha esposa, Simone, com João, por isso estava com Ruth e, por conseqüência, com Oslan. Desde fevereiro João e eu passamos a apresentar um programa na rádio, nos domingos à noite. Por isso, depois do culto, íamos à casa de João esperar a hora de ir para a rádio. Oslan sempre ia para lá também e, frequentemente, comíamos cachorro-quente lá próximo.
“Perder”, que palavra desagradável, especialmente quando falamos de alguém. Nunca poderei esquecê-lo, porque tive o privilégio dado por Deus ser seu amigo, verdadeiro amigo, mais que amigo, verdadeiro irmão, o irmão que nunca tive (tenho duas irmãs).
Estive no domingo com ele e Ruth. João viajara para São Paulo e pedira para eu ficar na congregação dele no domingo (Jardim Petrópolis). À noite Oslan e Ruth estavam conosco no culto. Ruth cantou, eu preguei. A pregação..., como poderei esquecer da pregação? Não quero lembrar, por isso não escreverei, mas o que eu preguei parecia anunciar o que aconteceria com ele e conosco, nunca esquecerei de certas palavras que pareciam proclamar a maneira como ele morreria (afogamento).
Estou no trabalho e esse escrito é para me ajudar a extrapolar o que estou sentindo, nem sei se mostrarei a alguém ou apenas deletarei ao final, mas acho que está me ajudando nesta hora. Nem sei se ainda restou alguma lágrima para ser chorada.
Saber que falta ele fará me destrói e neste momento a minha fé e esperança não trazem conforto algum. Minha confiança em Deus não diminui a dor. Eu rogo para que Sua graça e paz inundem meu coração. Como eu, muitos outros choram, Foi um irmão que se foi (sei que Deus o levou, mas me perdoem, por hora não posso expressar senão com “se foi”, porque é isto que sinto), um filho que deixa seus pais desolados, um noivo que deixa sua noiva sem saber como continuará conseguindo viver.
Como conseguirei tocar novamente em minha igreja, principalmente se a bateria continuar lá?! Próximo de começar o culto fúnebre fui montar o teclado, parei várias vezes dominado pela dor. Como eu queria tocar! Lembrar de ter tocado em seu velório seria algo bom para lembrar, mas não consegui.
Domingo, depois do programa na rádio eu iria buscar João no aeroporto. Oslan e eu fomos abastecer antes o carro e eu ia lhe aconselhando, como sempre fazia quando tinha oportunidade. Ele quase nunca contava seus problemas para mim, era um sujeito muito fechado, do tipo que agüenta calado (via muito de mim nele), mas bastava olhar nos olhos dele eu percebia que algo estava acontecendo. Não tenho essa habilidade de percepção com ninguém, mas com ele, por algum motivo, eu tinha. E novamente lhe aconselhei. Será uma lembrança que carregarei para sempre, não quero perdê-la, quer ela me faça sorrir, quer me faça chorar.
22 anos, foi com esse tempo de vida que ele foi chamado pelo seu Senhor. Sei que conhecerei pouquíssimas pessoas como ele. Pessoa alegre, de caráter, sempre bem disposta, sincera, amigo, temente a Deus, dentre tantos adjetivos que eu poderia dizer e que aqueles que o conheciam podem bem corroborar.
Até logo meu amigo, meu irmão, você era o melhor amigo que eu tinha (que me perdoem os outros). Se o Senhor o queria mais perto dEle, fico satisfeito e grato por ter sido abençoado com sua amizade nesses anos. Saiba que, embora sua partida para o descanso deixe muuuuuuita dor, a alegria que sua vida nos transmitiu por fim a superará, ainda que demora, sei que um dia poderei lembrar de você e sorrir, porque agora só consigo chorar. Sinto muito, como eu estava feliz em ser o padrinho do casamento que estava por vir.
Peço que não faça críticas a esse texto, pois não é um texto, mas pranto que jorra de meu coração. A única morte em que chorei foi de um amigo, uns 15 anos atrás, nem antes nem depois chorei por mais ninguém além de você, Oslan. Nem por meus tios, nem minha avó ou bisavó, mas você é mais que um irmão.
“O Senhor o deu, e o Senhor o tomou, bendito seja o nome do Senhor”.
“Aceitaremos o bem do Senhor e não também o mal?”.
“E ele andou com Deus, e Deus para Si o tomou”.
Até logo, Oslan, meu irmão. Quando eu chegar aí vamos fazer um som legal pro Senhor. Desculpe não ter conseguido ir ao seu sepultamento, mas o culto já me despedaçou, não posso ir porque “não aprendi dizer adeus”.
Natal, 02/05/2012
Reniê Pereira Abel

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Comentário de Jó 42.1-17 com 1.8 e com 2.10


Passagem escolhida: Jó 42.1-17 com 1.8 e com 2.10
1.    Autoria do livro
Vemos que a história de Jó já era conhecida na época do profeta Ezequiel (Ez 14.14,20), contudo, não se pode afirmar que o livro já estivesse escrito. É possível que Ezequiel conhecesse apenas a tradição oral.
É bom observar, como nos alerta Elissen (2001), que o livro é anônimo, não dando pistas sobre o autor. Contudo o autor traz a mesma lista de nomes de outros autores, como Heavenor[1] (1997, p. 701) e Gagliardi (1991). Vemos que os nomes mais indicados de possíveis autores são Jó, Eliú (Jó 32.6), Jeremias, Moisés e Salomão, sendo estes dois os mais aceitos. Surgem ainda nomes como Isaías e Baruque (amigo de Jeremias)
Ao que parece, o nome do livro, como Ester e Rute, se refire apenas ao personagem principal, não a seu autor.
Os que defendem a autoria de Moisés se baseiam no talmud judaico, que afirma que Moisés teria ouvido a história quando habitava em Midiã, conforme assevera, Gagliardi. Para Heavenor, o livro é da autoria de um judeu que, não obstante a sua lealdade ao judaísmo, se recusa a se deixar levar por certos aspectos do credo popular, em particular, pela tradicional visão de sofrimento como retribuição pelo pecado. É possível a autoria mosaica, pois há escritos do mesmo período, de outros povos, com história e estilo semelhantes.
Gagliardi salienta que um dos motivos de muitos defender a autoria salomônica se deve ao estilo e conteúdo parecido com Eclesiastes.
Lasor, Hubbard & Bush (1999)[2] destaca que alguns ligam a história de Jó com a morte de Josías, registrada em 2 Rs 23.29ss, que morreu tragicamente mesmo após a grande reforma efetuada no reino. Portanto, alguém do período teria escrito. Lasor ainda enfatiza que, apesar de ser anônimo, o autor deve ter tido experiência semelhante, provando do sofrimento e tendo encontro com Deus. Também era alguém bastante hábil em escritos sapienciais.
2.    Data de escrita
A data de escrita só é possível de afirmar determinando o escritor, o que vimos que é bastante polêmico. Gagliardi (1991) confirma isso, lembrando que, por não sabermos o autor, não temos como saber a data de escrita. Se crermos que tenha sido Eliú ou o próprio Jó,, dataremos por volta do século XXII a.c.; se foi Moisés, então datáramos por volta de de 1450 a.c.; se Salomão, em cerca de 950 a.c.
Quanto ao período da história registrada no livro, a maioria dos consideram que o fato foi real e que deve se encaixar no período patriarcal. Para isso, conforme nos mostra Kaiser (2007, pg. 101), temos que: 1. As riquezas de Jó são contadas em rebanhos (Jó 1.3); 2. Jó é o sacerdote familiar que oferece sacrifícios (Jó 1.5;42.8); 3. A moeda corrente (qesftâh — Jó 42.11) é a mesma que se menciona nos tempos de Jacó (Gn 33.19; cf, Js 24.32); 4. A longevidade de Jó (Jó 42.16) semelhante  á de José (Gn 50.23); e 5. A morte de Jó (42.17) é descrita como a de Abraão (Gn 25.8) e a de Isaque (35.29).
Elissen (2001) defende ou princípio do século XV (Moisés) ou meados do século X (Salomão). Já Lasor et al. (1997) lembra que se aqueles que conectam a escrita do livro à morte de Josías, datam por volta de (609 a.c.).
Muitos Alegam que a idéia contida em Jó é muito avançada, mesmo para a era salomônica, e muito mais para a era patriarcal. Contudo, é mais provável que tenha sido realmente escrito ou na época de Moisés ou de Salomão. Não se pode desprezar a escrita na época do exílio babilônico, embora os autores pesquisados não tenham feito referência à possibilidade desse período.
3.    Para quem foi escrito
Certamente o livro foi escrito para judeus, o problema é de que época. Como vimos até aqui, não se pode dizer quando exatamente foi escrito, por isso, o contexto muda.
Se escrito por Moisés, pode ter servido para contar ao povo sofredor de Israel, que acabara de sair da escravidão e que agora sofria no deserto, que o sofrimento não era em vão. Então a história que Moisés teria ouvido em Midiã serviria de exemplo para eles.
Caso tenha sido escrito no tempo de Salomão, falaria a uma sociedade que em grande parte estava afeita à literatura de sabedoria e, portanto, serviria como argumentação acerca da observação do mal, especialmente sobre o justo.
Se escrito no contexto do rei Josias, falava a um povo que, diante de um bom rei que morrera, tinha confrontada sua crença popular de castigo e recompensa divina. Ou ainda, se no período do exílio babilônico, teria como destinatários um povo que estava sofrendo e precisava de esperança.
Embora tenha tido público definido, não podemos negar que, por seu caráter universal de conteúdo, a saber, o problema do sofrimento dos justos, é um livro que fala a cada um dos que, como Jó, buscam a Deus e procuram se afastar do mal, contudo, sofrem.
4.    Finalidade de escrita do livro
Para Heavenor (1997), a questão magna do livro de Jó resume-se nestas palavras: "Por que será que o inocente sofre tanto?" É posta uma resposta de que o sofrimento é retribuição de Deus pelos pecados do homem. Esse parece ser um princípio inflexível da existência. Contudo, aparece a figura de Eliú, que se opõe a essa mensagem, tratando-o como disciplina, cuja finalidade é purificar, e não castigar. Após isto Jó vai à presença de Deus e conforma-se com a Sua divina vontade.
Heavenor ainda afirma que o livro denuncia a insuficiência da mente humana para uma compreensão adequada do problema do sofrimento. A visão acerca dos sofrimentos de Jó muda de uma prova de castigo divino, como pretendiam os amigos, para uma prova de confiança divina no seu caráter.
Gagliardi destaca que muitos defendem que Jó seria um personagem fictício criado para fins de lição moral e espiritual (cf. Ez 14.14; Tg 5.11). Independentemente da historicidade dos fatos relatados no livro de Jó, sem sombra de dúvidas o livro tem um propósito de ensinar, não apenas contar uma história ou estória. Por isso Gagliardi dia que o livro mostra as diferentes interpretações existentes para a questão do sofrimento humano, especialmente do justo. Vemos a perspectiva satânica, do piedoso sofredor, de seus amigos de fora do problema, e a de Deus. Satanás diz que Jó só teme a Deus por que é rico, se deixar de ser não buscará mais a Deus. Os amigos de Jó defendem que, se ele sofre, é porque está em pecado e que a prosperidade era recompensa certa do justo; Eliú destaca os fins disciplinares o sofrimento; para Jó: o sofrimento é para o ímpio, não para o justo; Deus afirma ser privilégio dado para nos aperfeiçoar e capacitar a cumprir seu propósito.
Já Elissen (2001), afirma que o objetivo central do livro é mostrar que Deus geralmente usa a adversidade, bem como a prosperidade, para amadurecer o seu povo. Deus se relaciona com seu povo não com regras mecânicas e legalistas, com mérito e demérito humano, mas com misericórdia, graça e amor.
Por sua vez, LASOR et al. (1997), como destacamos anteriormente, lembra que alguns conectam a história com a morte do rei Josías (2 Rs 23.29ss). Dado o trágico falecimento desse rei pouco depois da reforma feita, causou um choque na pessoas, devido à sua crença de castigo e recompensa. A história, fosse considerada verídica ou apenas uma analogia, visaria mostrar que essa lógica é equivocada.
O universo demonstra a capacidade de Deus de guiar todas as coisas, mesmo as que não compreendemos, como o sofrimento. Tudo deve nos conduzir à adoração a Deus. A grandiosidade dEle nos leva a adorá-lO independentemente do que poderemos ganhar, aliás, poderemos ganhar sofrimento. Deus tem um propósito muito maior que nos dar uma vida confortável, Ele quer nos aperfeiçoar visando a eternidade. Os filhos de Deus buscam a Deus, não de Deus, por isso, aceitam o sofrimento.
5.            Gênero literário principal do livro e sua relação com a correta forma de interpretá-lo
Zuck (1994) classifica o livro de Jó como literatura sapiencial reflexiva e afirma que essa literatura “compreende uma discussão sobre os mistérios da vida”. (ano, pg. 153).  Na mesma linha, Fee & Stuart (1997) destaca que “a sabedoria especulativa é prática e empírica ao invés de meramente teórica” (pg. 200). Diz que esse tipo de literatura é mais fácil de absolver e guardar na memória. Afirma ainda que “sabedoria é a disciplina de aplicar a verdade à vida” (ano XX, pg 197) e que o sábio age de acordo com a verdade: “O sábio procurava ser bem sucedido em tudo que fazia”, para isso “qualquer pessoa que procura diariamente aplicar a verdade de Deus e aprender da sua experiência pode acabar ficando sábia” (pg. 198-199).
Gagliardi o clássica como livro “poético”. Esse termo não é atribuído por se tratar de um romance, uma estória imaginária, mas devido a sua forma literária, seu estilo elegante e da forma poética.
Dos autores pesquisados, Lasor et al. (1997) é o que se detém mais sobre a temática do gênero do livro. Ele assevera que Jó, provérbios e salmos são uma literatura instrutiva, que ensina o indivíduo a como cumprir a lei do Senhor em seu dia a dia. Ele não define o gênero em que consiste o livro de Jó, mas considera é um escrito sapiencial que mescla épico, comédia (ironia), lamentação, disputas argumentativas e ensino.
Lasor explica que há dois tipos de escritos sapienciais, a sabedoria proverbial, que é composta de ditos breves e substanciais, e a sabedoria especulativa ou contemplativa, que consiste em monólogos, diálogos ou ensaios que discorrem sobre problemas da existência humana. Essa abordagem especulativa é a encontrada no livro de Jó. Não é uma especulação teórica, mas extremamente prática, tratando de problemas concretos (1997, pg. 520-521).
Quanto à forma da mensagem, Lasor entende que ela e mensagem estão ligadas na poesia. Usa-se uma imagem verbal para transmitir o significado. Segundo ele, devemos analisar a passagem, ou seja, dividir as partes, contudo, não devemos fragmentar a mensagem; devemos ainda observar as figuras de linguagem deste tipo de literatura, como montes que saltam, ou seja, cuidado com a interpretação literal.
Lasor destaca ainda que a sabedoria no Oriente antigo e no AT visava o êxito e o bem estar do indivíduo. Para o verdadeiro israelita, toda sabedoria provinha de Deus e só aquele que temia a Deus poderia começar a ser sábio. A sabedoria baseada na capacidade humana sem temer e obedecer a Deus estava destinada ao fracasso.
F. F. Bruce[3] (1997) acredita que o reconhecimento das formas básicas da poesia bíblica nos ajuda a interpretar melhor o texto, “O entendimento da métrica bíblica nos ajuda a compreender melhor o texto das Escrituras”. (ano, pg. 68). Ele lembra que a verdadeira sabedoria para os pensadores hebreus, não era unicamente um raciocínio intelectual, mas acima de tudo prático. Sendo o "temor do Senhor o princípio da sabedoria", o verdadeiro sábio era aquele que encarava a vida num espírito de reverência a Deus.
Esse tipo de literatura tenta entender problemas reais como o sofrimento do justo, por isso, devemos ter cuidado, pois, como podemos ver no livro de Jó, os conselhos de três de seus amigos são errados e constituem o pensamento popular. Por sua vez, o discurso de Eliú, embora verdadeiro, não se constitui de toda a verdade. Deve-se ver toda a mensagem para não correr o risco de chegar à interpretações equivocadas.
Kaiser (2007) diz que o temor era um princípio orientador para todos os aspectos da vida e "todos os dias que na terra viverem" (2007, pg. 173), inclusive quanto ao sofrimento. Quando os homens estavam em relacionamento correto com Deus, então seu relacionamento era apropriado para entenderem os objetos e o próprio mundo. Pg 174.
Portanto, a literatura poética especulativa deve ser entendida a fim de que se possa interpretar corretamente o texto. Tanto se deve compreender isso por causa da linguagem emprega, como figuras de linguagem, que não se podem interpretar corretamente, quanto ao objetivo e conteúdo, pois se trata de um livro de sabedoria, que visa discorrer um problema real, neste caso, o sofrimento do justo.
6.            Interpretação da passagem
É o próprio Deus quem testifica da justiça de Jó: “Disse então o SENHOR a Satanás: ‘Reparou em meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele, irrepreensível, íntegro, homem que teme a Deus e evita o mal’” (Jó 1.8). Contudo, na visão de Satanás, os bens materiais e a paz familiar que rodeiam Jó são o verdadeiro motivo de toa a piedade demonstrada Jó. Para Satanás, se Deus destituísse Jó de seus bens e filhos, bem como de sua saúde, ele certamente deixaria de ser justo.
Contudo, vemos durante todo o livro que Jó nega as duas coisas: Deus não o poderia estar castigando, pois ele era justo (Jó 31[4]), assim também ele demonstra desde início que seu temor à Deus não depende das circunstâncias: “Ele respondeu: Você fala como uma insensata. Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal? Em tudo isso Jó não pecou com seus lábios” (Jó 2.10). Vale destacar que, embora não aceite que mereça sofrimento, Jó identifica a origem de seu sofrimento em Deus, tanto quanto de seus bens.
Depois de toda a sua experiência, especialmente depois do discurso de Deus a Jó, do capítulo 38 (trinta e oito) ao 41 (quarenta e um), a auto-justiça de Jó cai por terra e Ele reconhece que Deus é soberano: “Sei que podes fazer todas as coisas; nenhum dos teus planos pode ser frustrado” (Jó 42.2). Reconhece que não é capaz sequer de entender as coisas mais simples da criação, quanto mais algo tão complexo: “Tu perguntaste: ‘Quem é esse que obscurece o meu conselho sem conhecimento?’ Certo é que falei de coisas que eu não entendia, coisas tão maravilhosas que eu não poderia saber” (Jó 42.3).
Ainda vemos que Jó reconhece a imensa sabedoria de Deus, que sabe conduzir toda sua criação com perfeição, mesmo quanto as coisas que não compreendemos, como o sofrimento: “Tu disseste: ‘Agora escute, e eu falarei; vou fazer-lhe perguntas, e você me responderá’” (Jó 42.4).  Depois do discurso de Deus e de sua experiência Jó podia dizer “Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram” (Jó 42.5). Essa visão mais clara de Deus o faz entender quão pequeno e indigno ele era diante do criador: “Por isso menosprezo a mim mesmo e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42.6), tal qual Isaías (Is 6.1-8).
Jó se curva diante da soberana vontade de Deus e recebe, das suas mãos, tanto a dádiva como a privação. O livro nos ensinar a suportar e aceitar o sofrimento como algo vindo de Deus com bom propósito, mesmo que não possamos compreender.
7.            Relação da passagem com o Novo testamento
Não podemos deixar de notar que as verdades expressas no livro de Jó podem ser vistas no Novo Testamento.
Podemos ver Pedro em sua primeira carta afirmando: “Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação” (1 Pe 1.6). Embora desfrutemos de toda sorte de bênçãos espirituais (Ef 1.3), passaremos por muitas aflições, conforme o próprio Jesus afirmou (Jo 16.33). Pedro ainda afirma que viver uma vida digna do Senhor nos traz sofrimento, mas fomos chamados para isso, como o próprio Jesus sofreu (1 Pe 2.19-24). Afirma que “É melhor sofrer por fazer o bem, se for da vontade de Deus, do que por fazer o mal” (1 Pe 3.17). Jesus também sofreu ao fazer a vontade de Deus (1 Pe 3.18; 4.1). Assim como Jó, devemos viver nos afastando do mal e temendo a Deus, sendo retos em todo nosso proceder (1 Pe 4.2). Servir a Deus não nos exime de passar por sofrimento (1 Pe 4.14,16), inclusive, sofremos como correção de Deus (1 Pe 4.17-19), serve para provar e aperfeiçoar nossa fé (1 Pe 1.7).
Tiago também lembra que não podemos prever o futuro, mas devemos confiar em Deus, independente do que esteja para vir ou já estejamos passando (Tg 4.13-16). Tal qual como Jó, devemos busca uma conduta justa em todo nosso proceder (Tg 2.202-6). Tiago alerta que devemos nos alegrar diante das provações, porque são como uma prova, um teste de nossa fé e ela traz maturidade (Tg 1.2-4,21-25). Ele nos lembra que há recompensa para aquele que persevera, embora não fale de coisas materiais, mas muito mais excelentes (Tg 1.12). Diante da tribulação, Tiago nos diz o que fazer (Tg 5.7-11): ser pacientes, fortalecer o coração, não reclamar, lembrar dos exemplos dos homens de Deus (cf. Hb 11), lembrar que Deus é cheio de compaixão e misericórdia, lembrar que o fim prometido aos santos do Senhor é muito mais superior comparado ao que passamos hoje (Rm 8.18). Ele nos lembra de Jó (única citação do Novo Testamento acerca desse personagem): “Vocês ouviram falar sobre a perseverança de Jó e viram o fim que o Senhor lhe proporcionou” (Tg 5.11b).
Também vemos precedentes no Novo Testamento da visão do sofrimento como retribuição divina. Ao verem um cego “os discípulos de Jesus perguntaram: ‘Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?’ Disse Jesus: ‘Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele’” (Jo 9.2,3). Jesus, portanto, desfaz essa lógica humano, nos dizendo que o sofrimento também é instrumento utilizado por Deus para agir com bons propósitos para os homens, mesmo que nossa mente não consiga alcançar tão grande mistério.
Jesus também diz que o servo não tem direito algum e o senhor (aqui fala de Deus, ou melhor, do próprio Cristo) não obrigação de agradecer ou retribuir pelo serviço do servo (Lc 17.7-10).
Aflições são um bem presente também na vida e ensino de Paulo. Quanto a elas não comentarei, pois falam por si mesmas. Vejamos alguns exemplos:
“Pois como as aflições de Cristo transbordam para conosco, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo. Se somos atribulados, é para vossa consolação e salvação; se somos consolados, para vossa consolação é, a qual se opera suportando com paciência as mesmas aflições que nós também padecemos. A nossa esperança acerca de vós é firme, sabendo que, como sois participantes das aflições, assim o sereis também da consolação”. (2 Co 1.5-7)
“Agora me regozijo no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja”. (Cl 1.24)
“De maneira que nós mesmos nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus por causa da vossa paciência e fé, e em todas as vossas perseguições e aflições que suportais”. (2 Ts 1.4)
“Sofre, pois, comigo, as aflições como bom soldado de Cristo Jesus”. (2 Tm 2.3)
O que dizer do sofrimento de Jesus? O Novo Testamento inteiro esta recheado desse conteúdo como em Hb 2.10: “Convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o autor da salvação deles”. Cristo tinha que padecer. “O discípulo não é mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor (Mt 10.24).
Embora Jesus fosse Deus, o autor de Hebreus nos diz que “embora sendo Filho, aprendeu a obediência por meio daquilo que sofreu” (Hb 5.8). O sofrimento tem fins didáticos da parte de Deus. A atitude de Jesus diante deles foi só uma: “Seja feita a Tua vontade!”: Podemos ver:
“Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. (Mt 6.10)
“Indo segunda vez, orou, dizendo: Meu Pai, se este cálice não pode passar de mim sem que eu o beba, faça-se a tua vontade”. (Mt 26.42)
“Seja feita a Tua vontade’ poderiam ser palavras de Jó.
8.            Aplicação pessoal
Jó, embora fosse justo, tendo como testemunha disso o próprio Deus, reconheceu, por fim, que, diante de Deus nossa justiça se desfaz (Is 64.6). Ante Deus todos nos deparamos verdadeiramente como somos, desprezíveis pecadores (Is 6). Jó proclama sua auto-justiça, seu orgulho por ser reto (Jó 31), mas depois de ver Deus, reconhece sua pequenez (Jó 42.5-6). Devemos ver quão pequenos somos.
Outra coisa a retratar é que, se Jó não é tão justo como parece, pois, embora em relação aos seus pecados externos, visíveis, ele fosso inimputável, seu pecados do espírito (orgulho e auto-justiça) o condenavam. Paulo diz: “Amados, visto que temos essas promessas, purifiquemo-nos de tudo o que contamina o corpo a e o espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus” (2 Co 7.1).
Se Jó não é totalmente justo, visto que se prova que ele tinha pecados, e levando o pecado à morte (Rm 6.23), Jó precisa de outro tipo de justiça. Daí nos afirma o apóstolo Paulo a solução providenciado pelo próprio Deus: “sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24). “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1). “Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda, por meio dele, seremos salvos da ira de Deus!” (Rm 5.9).
Paulo afirma ainda de forma mais categórica em Gl 2.16:
“sabemos que ninguém é justificado pela prática da Lei, mas mediante a fé em Jesus Cristo. Assim, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pela prática da Lei, porque pela prática da Lei ninguém será justificado”.

Não podemos exigir nada de Deus. O que Deus concede se deve à sua bondade, não a nosso merecimento.
Não podemos justificar o sofrimento como algo proveniente do Diabo, mas é algo vindo de Deus, de alguma forma, visando nosso bem. Não existe sequer uma referência bíblica que nos diga que devemos ofertar, jejuar ou orar para acabar com o sofrimento. A ordem é apenas para suportarmos, nos alegrar e confiar em Deus.
Os caminhos de Deus são muito mais altos que os nossos (Jó 11.8), Ele permite o sofrimento, mas sabe o que faz. Devemos confiar em Sua sabedoria e justiça, pois ele sabe como guiar as coisas com perfeição.
Não conseguiremos entender todas as coisas, a razão é limitada. Há coisas em que apenas precisamos confiar. Por vezes Deus nos inflige sofrimento exatamente para provar e aperfeiçoar essa confiança. C. S. Lewis (2006) teve experiência de sofrimento e sobre confiança em Deus em meio à dor, como vemos:
“E fácil dizer que você acredita que uma corda seja forte e segura, enquanto a está usando apenas para amarrar uma caixa; mas imagine que deva dependurar-se nessa corda sobre um precipício. Será que não iria primeiro descobrir o quanto na verdade confia nela?”. (Pg 45)
“Desco­bri que não havia coisa semelhante. Apenas um perigo ver­dadeiro põe à prova a realidade de uma crença”. (pg.47)
“Achei que havia confiado na corda até que se tornou impor­tante saber se ela suportaria o meu peso. Agora que isso im­porta percebo que não confiava nela”. (Pg. 59)
A revelação de Deus promove a submissão, a fé e a coragem. O Deus que se apresenta a Jó não responde a nenhuma das questões debatidas em todo o livro; mas satisfaz a necessidade do coração de Jó.
Leva-nos a confiar em Deus em quaisquer circunstância, depender de Deus e ver que Ele é tudo que precisamos.
Há realidade desfaz o pensamento de retribuição divina. Vemos os Salmos 37 e 73, bem como o autor de Eclesiastes essa verdade. há justos que sofrem e são prósperos enquanto há ímpios prósperos e felizes.
Deus nos conhece e não coloca em nossa vida aflição que não possamos suportar (1 Co 10.13[5]). Quando nossas forças não são suficientes, nos fortalecemos na fora de Seus poder (2 Co 1.8; Ef 1.19; 6.10).
Apesar do pecado de Jó, que fica evidenciado no livro (Jó 32.2), Deus continua chamando Jó de “meu servo”, como no início da história (Jó 42.7). Deus não faz vistas grossas aos nossos pecados, mas nos ama e valoriza apesar dEle. Vemos que, por causa de Cristo Ele nos aceita e busca nosso bem. Ele demonstrou Seu imensurável amor se tornando homem e morrendo na cruz (Jo 3.16; Fp 2.5-11).
Deus autoriza a ação de Satanás, determina até onde ele pode ir, não diz a Jó o que está acontecendo nem explica no final porque fez. Não responde as perguntas de Jó. Os plano ou propósitos de Deus não podem ser impedidos, devemos confiar Jó 42.2. A revelação de Deus desfaz a autojustiça de Jó.
Satanás existe e é um ser pessoal (anjo caído), que se opõe a Deus. Sua oposição a Deus. Não podendo atingir Deus ele direciona sua ira contra os santos do Senhor, buscando seduzi-los e/ou destruí-los (cf. Ap 12). Contudo está subordinado a Deus e só faz o que lhe é permitido fazer. Ele não pode tocar os filhos de Deus sem que Este permita e até onde é autorizado.














REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GAGLIARDI JR., Ângelo. Panorama do Velho Testamento. Rio de Janeiro: Vinde Comunicações, 1995.
ELISSEN, Stanley A. Conheça melhor o Antigo Testamento. Trad. Emma Anders de Souza Lima. São Paulo: Vida, 1991.
LaSOR, William Sanford; HUBBARD, David Alan & BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999.
KAISER JR. Walter C. Teologia do Antigo Testamento. Trad. Gordon Chown. 2. Ed. São Paulo: Vida Nova, 2007.
DAVIDSON, Francis (org.). O novo comentário da Bíblia. 3. Ed. São Paulo: Vida Nova, 1997.
FEE, Gordon D, & STUART, Douglas. Entendes o que lês?. 2. Ed. São Paulo: Vida Nova, 1997.
ZUCK, Roy B. Interpretação Bíblica: meios de descobrir a verdade bíblica. Trad. Cesar de F. A. Bueno Vieira. São Paulo: Vida Nova, 1994.
LEWIS, C. S. A anatomia de uma dor: um luto em observação. Trad. Alípio Franca Correia Neto. São Paulo: Editora Vida, 2006.


[1] HEAVENOR, E. S. P. Jó. In: DAVIDSON, Francis (org.). O novo comentário da Bíblia. 3. Ed. São Paulo: Vida Nova, 1997.
[2] LaSOR, William Sanford; HUBBARD, David Alan & BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. Trad. Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1999.
[3] BRUCE, F. F. A poesia do Velho Testamento. In: DAVIDSON, Francis (org.). O novo comentário da Bíblia. 3. Ed. São Paulo: Vida Nova, 1997.
[4] Deve-se observar que esse texto demonstra o pecado de arrogância de Jó , que se arvora em sua justiça própria. Contudo, os fatos ditos por ele constituem a verdade sobre sua conduta.
[5] O contexto fala de tentação, não tribulação, embora seja aplicável a esta.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Programa Palavra da Fé

Confira todos os domingos das 22 às 23 horas o porgrama "Palavra da Fé": www.litoralnorte.fm.br

Você pode conferir o programa em www.4shared.com, pesquisar "palavra da fé"

Eis aí alguns links

http://www.4shared.com/mp3/_rToAS00/file.html
http://www.4shared.com/mp3/D0EZZK27/file.html
http://www.4shared.com/mp3/dYhlt2dt/file.html

Ótima seleção musical e exposição das Escrituras. Você pode entrar em contato através do emailrpalavradafemepb@hotmail.com

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O grande abismo

Terminei de ler mais um livro do grande C. S. Lewis, "O grande abismo". Não posso falar exatamente do que se trata porque, embora eu tenha percebido, só dá para ter certeza do que se trata já no fim mesmo. Não me aguentando, só adianto que se relaciona com com o estado do homem sem Deus ou com Ele. Aí vão algumas passagens interessantes:

    "Não só o crepúsculo naquela cidade, mas toda a sua vida na terra também, será vista então pelos condenados como sendo o Inferno. É isso que os mortais não entendem. Eles dizem a respei¬to de um sofrimento temporário: ‘Nenhuma bênção futura poderá compensar-me disso’, sem saber que o Céu, uma vez alcançado, irá operar retroativamente e transformar até mesmo essa agonia em glória. E quanto a algum prazer pecaminoso dizem: ‘Deixe-me ter apenas isso, e aceito as conseqüências’: sem ter idéia de como a condenação retrocederá para o seu passado e irá contaminar o prazer do pecado. Ambos os processos começam mesmo antes da morte. O passado do homem bom passa a modificar-se de forma que seus pecados perdoados e sofrimentos lembrados tomam a qualidade do Céu; o passado do homem mau já se conforma à sua maldade e está cheio apenas de miséria. É por isso que, no fim de todas as coisas, quando o sol nascer aqui e o crepúsculo se trans¬formar em trevas lá, os Santos dirão: ‘Jamais vivemos em lugar al¬gum exceto no Céu’, e os Perdidos, ‘Sempre estivemos no inferno’. E ambos estarão falando a verdade.”

    “O sensual, começa perseguin¬do um prazer real, embora pequeno. Seu pecado é pequeno. Mas chega a hora em que, embora o prazer diminui sempre e o desejo cresça cada vez mais, e embora ele saiba que a felicidade jamais é alcançada dessa forma, mesmo assim prefere à alegria a simples carícia da luxúria insaciável e não pode admitir que isso lhe seja negado. Lutaria até a morte para mantê-lo. Gostaria de poder co¬çar-se, mas mesmo quando não pode coçar prefere mesmo assim manter o desejo de fazê-lo.”

    “Houve homens que se interes¬saram de tal forma em provar a existência de Deus que acabaram se desinteressando por completo do próprio Deus... como se o bom Senhor nada tivesse a fazer além de existir! Houve alguns tão ocu¬pados em espalhar o cristianismo que jamais deram um pensamen¬to a Cristo. Amigo! Você pode ver isso nas pequenas coisas. Você já conheceu um amante de livros que com todas as suas primeiras edições e obras autografadas tivesse perdido o poder de lê-Ias? Ou um organizador de obras de caridade que perdesse todo amor pelos pobres? Trata-se da mais sutil de todas as armadilhas.”

    “Só há duas espécies de pessoas no final: os que dizem a Deus, ‘Seja feita a Tua vontade’, e aqueles a quem Deus diz: A tua vontade seja feita.”

    “Os que odeiam o bem estão algumas vezes mais perto do que os que nada sabem a respeito dele e julgam conhecê-lo.”

    “Não é possível amar um semelhante perfeitamente até que se ame a Deus.”

    “Só existe um único ser bom, e esse é Deus. Tudo o mais é bom quando olha para Ele e mau quando se afasta dEle.”

    “Mas o que chamáva¬mos de amor lá embaixo era quase que só o desejo de ser amado. Em grande parte amei você por mim mesma, porque precisava de você.”

    “A compaixão deveria ser um estímulo para levar a alegria a ajudar a miséria. Os que escolhem a infelicidade podem matar a alegria, através da compaixão.”

    “Todavia, toda solidão, ira, ódio, inveja e desejos nele contidos, se combinados numa só experiência e colocados na balança em oposição ao menor momento de gozo sentido pelo menor de todos no céu, não teria peso algum que pudesse ser registrado.”

    “Em primeiro lugar eles não querem, e no fim não podem abrir as mãos para receber as dá-divas, a boca para serem alimentados, ou os olhos para ver.”

    “Somente o Maior de Todos pôde tomar-se suficientemente peque¬no para entrar no inferno”.

Fica a dica de leitura.

Dicotomia

                                                          INTRODUÇÃO
    Há vários pensamentos acerca da constituição do homem, como o monismo, que entende que o homem é formado unicamente de um elemento (corpo), e da tricotomia, que entende que há três elementos, a saber, corpo, alma e espírito. Contudo, cremos na dicotomia, ou seja, que há apenas dois elementos: corpo e alma, também chamada de espírito.
    Os termos usados comumente na Bíblia, em hebraico e em grego, para designar os elementos constitutivos dos homens, são bãsãr, soma, corpus (corpo) e nishma’, ruwach, nefesh, psychê, pneuma, animus (mente, alma, ânimo, espírito). Veremos que o último grupo fazem referência à alma e espírito como sendo o mesmo elemento. Contudo, não me deterei nos aspectos lingüísticos dos termos.
    Vejamos, portanto, alguns argumentos bíblicos que nos mostram que a opção mais coerente é a crença na dicotomia.

                                                            ARGUMENTOS
1.    O primeiro ponto a destacar é que no relato da criação (Gn 2.7 ) vemos apenas dois elementos em destaque: o corpo, formado do pó da terra, e um elemento espiritual quando Deus soprou fôlego de vida, tornando o homem alma vivente. “Alma”, aqui, não é um elemento distinto, mas liga-se ao termo “vivente”, sendo o designativo da própria vida advinda do sopro.

2.    No que diz respeito à morte e ao estado da alma imediatamente após a morte: a morte é descrita como entrega da alma (Gn 35.18; At 15.26) e também como entrega do espírito (Sl 31.5; Lc 23.46). Ver ainda Ec 12.7; 2 Co 5.4-8; Fp 1.23,24; At 5.59.

3.    Os tricotomistas defendem que a alma é a sede das emoções, intelecto e vontade. Vêem o Espírito como o elemento que nos liga à Deus. Portanto, se fosse possível mostrar que a Bíblia sempre faz essa distinção, eles poderiam provar sua teoria, mas não é possível, pois, como veremos, os termos são sados um pelo outro:
•    Jo 12.27 e 13.21 falam dos dois (espírito e alma) angustiando-se, assim como Lc 1.46,47.
•    O espírito tem emoções: Jo 13.21; Pv 17.22; O espírito tem intelecto: Mc 2.8; Rm 8.16; 1 Co 2.11.
•    A alma se relaciona com Deus: Sl 25.1; 62.1; 103.1; 146.1; Lc 1.46. O espírito não é mais puro que a alma, pois pode pecar: 2 Co 7.1; 1 Co 7.4; Sl 78.8; Dn 5.20.; Pv 16.2.
•    Vê-se que tanto uma como outra são usadas para designar a sede das faculdades racionais (Mt 10.28; 16.26; 1 Pe 1.22). Ambas também são empregadas para se referir ao princípio vital do corpo (Tg 2.26).
•    Pessoas falecidas são chamadas tanto por um como por outro termo (At 2.27,31; Ap 6.9; 20.4; Lc 24.37,39; Hb 12.23; 1 Pe 3.19).

4.    Quanto a passagens em que apresentam os três termos juntos e aparentemente distintos uns dos outros, é usado o paralelismo, que é uma idéia repetida usando termos diferentes. Vejamos:
•    Dt 6.5: “Ame o SENHOR, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças”. Vemos aí vários termos, mas, coração, alma e forças são a mesma coisa no texto. Se coração fala da fonte dos sentimentos e este é um atributo da alma (GINGRICH, 1984, p. 226), seguindo a interpretação tricotomista, há um problema para resolver, pois são duas coisas distintas (alma e coração) com a mesma função!
•    Hb 4.12: “Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração”. Ela diferencia pensamentos e intenções do coração (intelecto e vontade). O texto fala de aspectos da alma, não de coisas diferentes. A palavra psychê se refere à alma humana, acentuando sua qualidade como o princípio vital do homem. A palavra pneuma se refere à alma, acentuando sua qualidade racional. Contudo ambas se referem à mesma alma.
•    1 Ts 5.23: “Que o próprio Deus da paz os santifique inteiramente. Que todo o espírito, a alma e o corpo de vocês sejam preservados irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”. Assim como Hb 4.12, não fala de três partes. Vemos mais um caso de paralelismo, assim como vemos em Mt 22.37 “Respondeu Jesus: ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’”. Nem precisamos falar do coração, basta ver que entendimento, sendo na visão tricotomista como sendo componente da alma, estaria repetindo a idéia de alma com outra palavra, usando, portanto, três termos para falar de uma única coisa.

5.    Há textos que mostram o homem como constituído tanto por corpo e alma quanto por corpo e espírito: (Mt 10.28; 1 Co 5.5; Tg 2.26; 1 Co 5.3; 7.34; 2 Co 7.1; Rm 8.10; Cl 2.25).

6.    Pitágoras e Platão, seguidos pelos demais filósofos gregos e romanos defendiam a tripla constituição do homem: espírito racional (nous, pneuma, mens), alma animal (psychê, anima) e corpo (corpus, soma). Assim, Paulo pode estar falando muito mais falar em uma linguagem popular aos que tinha essa cultura helenística, usando os três quando queria fazer menção da totalidade do homem (1 Ts 5.23; 1 Co 15.44; ver também Hb 4.12). Essa criação do elemento espírito pelos gregos se devia à visão de que o corpo e alma são ruins, “pecaminosos”, necessitando-se, assim, de um elemento puro para a ligação com os deuses.

7.    Os tricotomistas dizem que é o Espírito que se relaciona com Deus, portanto, não há participação da mente/intelecto, mas isso é uma visão baseada no misticismo, e não é o que a bíblia expressa. O Espírito Santo convence, isso se dá na mente. Devemos nos transformar pela renovação da mente. As pessoas se relacionam usando o coração que é o mesmo que alma e espírito. A mente é elemento fundamental no cristianismo .

8.    Eles também dizem que os animais tem uma alma rudimentar e o que diferencia o ser humano é a existência do espírito. Contudo, se é na alma que está o intelecto e a vontade e não se pode provar a afirmação da existência de mais de um tipo de alma, então os animais deveriam possuir estes atributos, além de terem um elemento imortal (alma). Ec 3.21: “Quem pode dizer se o fôlego do homem sobe às alturas e se o fôlego do animal desce para a terra?” Esse texto pode se referira uma compreensão da existência espiritual eterna do homem, enquanto os animais não a tem .
                                                           
                                                               CONCLUSÃO
     Desta forma, não há possibilidade de aceitação da composição do homem em três elementos distintos, tricotomia, pois os parcos textos que apoiariam esse pensamento (apenas dois) são, na melhor das hipóteses, muito contestáveis e inconclusivos, especialmente quando se observa o paralelismo.
     Por sua vez, os textos que falam da criação, da morte e do estado do estado da alma logo após a morte, os termos usados um pelo outro e a impossibilidade de mostrar biblicamente que há três elementos e que o corpo, a alma e o espírito teriam funções distintas e bem definidas, provam que não é possível provar biblicamente a existência de três elementos, distinguindo-se espírito e alma.
    Quanto ao monismo, apesar de o Antigo Testamento, à primeira vista parecer falar do homem como apenas corpo, ele na verdade ressalta em diversas passagens a existência de um elemento imaterial, Vê-se no judaísmo a crença neste elemento. Contudo não abordarei aqui essa visão, que é ainda mais claramente refutada pela bíblia.
    Lembro que não se pode fazer doutrina com apenas um (ou dois) versículos, mas à luz do que diz toda a Escritura Sagrada. A tricotomia se apóia apenas no pensamento grego e em dois versículos bíblicos.

                                                               REFERÊNCIAS
•    GRINGRICH, Wilbur & DANKER, Frederick W. Léxico do Novo Testamento grego/português. 1ª ed. Trad. Júlio P. T. Zabateiro. São Paulo: Vida Nova 1984. 228 p.
•    COENEN, Lothar & BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 1. 2ª ed. Trad. Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova: 2000. p. 69-79; 713-720.
•    BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Campinas: Luz Para o Caminho, 1990. p. 181-187.
•    GRUNDEM, Wayne. Manual de Teologia Sistemática: uma introdução aos princípios da fé cristã. Trad. Heber Carlos de Campos. São Paulo: Vida, 2001. p. 207-212.
•    ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. Trad. Lucy Yamakami. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 227-233.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Salmos 119.105

    O Salmo 119.105 diz "Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para o meu caminho", mas o que isso significa? Creio que é possível entender o que disse o salmista se o colocarmos à luz do que Jesus disse em Jo 3.19-21:
    "E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas em Deus".

    Jesus diz que Ele, a luz, veio ao mundo, mas os homens o rejeitaram porque suas obras eram más. Isso porque a luz mostra o que está oculta nas trevas, e os homens que fazem más obras não querem ser confrontados ao vê-lasreveladas.
    Jesus também diz que quem pratica a verdade vem para a luz para que se veja que suas obras são feitas em Deus.
    Agora, o que isso tem a ver com o Salmo 119.105? Simples:
    Quem busca viver sua vida pautado nos preceitos de Deus precisa de algo que lhe oriente se está ou não andando no caminho certo. De acordo com esse salmo, é a Palavra de Deus quem mostra o caminho que se está seguindo. Ela é quem diz se estamos no caminho certo ou errado, por isso, precisamos conhecê-la, meditar nela constantemente para nos avaliar.
    Creio que isso pode ser confirmado pelo que nos diz o Salmo 119.104: "Pelos teus preceitos alcanço entendimento, pelo que aborreço toda vereda de falsidade". São os mandamentos do senhor que nos dão sabedoria de andar pelo caminhos certos e detestar e se afastar dos maus caminhos.
    Isso foi o que fez nosso irmão Jó: porque amava e buscava a Deus, se desviava dos maus caimhos.