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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Para que fomos salvos?



     A carta de Paulo aos Romanos aborda a tão grande salvação ofertada por Deus aos homens. Do capítulo 1 ao 3 vemos Paulo argumentar que todos os homens estão debaixo da ira de Deus, sejam Judeus, que receberam a revelação de Deus, quanto os gentios, que deveriam ter reconhecido o criador pela manifestação de Sua glória na natureza e pela acusação de suas próprias consciências. No capítulo 4 e parte do 5 do vemos o argumento de Paulo acerca da justificação pela fé, onde utiliza a figura de Abraão. No capítulo 5 vemos o contraste entre Adão e Cristo e ambos como representantes de toda a humanidade. Os capítulos 6 e 7 mostram a luta entre carne e Espírito e que o homem deve, por causa da grande graça de Deus, se apartar do pecado e buscar viver em novidade de vida. O capítulo 8 fecha o pensamento dos capítulos 6 e 7 mostrando a nova vida em Cristo e a certeza da salvação e da glória futura, que, em parte, já é desfrutada aqui.
     Os capítulo 9 a 11 mostram a soberania da vontade de Deus quanto à salvação e o futuro de Israel. Do capítulo 12 ao 14 vemos a decorrência da salvação na prática de vida dos salvos: vivem não de acordo com o padrão do mudo, mas, subordinados à Deus, vivem nova vida, que é demonstrada no amor servil pelos irmãos, através do empenho no desempenho dos dons recebidos de Deus. Além disso, vivem como cidadãos exemplares e se compadecem dos fracos na fé. O capítulo 15 fecha este pensamento, demonstrando o exemplo de abnegação de Cristo, seguindo fala de seu próprio exemplo. A carta é encerrada com recomendações, saudações e votos.
     Vejamos mais detidamente o capítulo 12 da carta, até o versículo 8, que para fins de entendimento, subdividimos em quatro partes:
     12.1-2: Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.
     Paulo usa a expressão “rogo-vos”, para destacar o grau de importância do que ele vai orientar. Eles deveriam estar muito atentos. “Pois” é a conclusão de toda a exposição feita até o fim do capítulo 11 e mostra que o que Paulo vai dizer a partir de agora é decorrência disso. “Pela compaixão de Deus” refere-se à grandiosa graça efetuada por Deus na salvação é a razão de eles fazerem o que Paulo vai passar a orientar.
Paulo orienta aos cristãos de Roma que deveriam fazer duas coisas: apresentar-se a Deus como sacrifício e transformar-se.
     Apresentar o corpo a Deus se refere à entrega de todo ser a Deus. Na antiguidade, as pessoas fariam oferendas aos deuses a fim de obter seu favor, fosse concedendo alguma dádiva ou livrando dos infortúnios. Aqui, Paulo orienta que, não para obter favor, mas por causa do favor já recebido, a única resposta razoável era oferecer não animais, mas a si mesmos. Deveriam entregar todo o ser a Deus, por isso esse sacrifício é “vivo”. O indivíduo deveria conservar sua vida unicamente para Deus, por isso, o sacrifício é “santo”, exclusivo. Deveriam fazer isso não da forma que entendiam que deveriam fazer, mas da maneira que Deus exige para aceitar, por isso, “agradável a Deus”.
     Diante disso, vemos que Adorar é oferecer a Deus a vida inteira diariamente. Nessa perspectiva, não se vai à igreja para adorar (lá também se faz isso), mas deve-se adorar a todo instante e em todo lugar, através de toda ação, palavra ou pensamento. Essa concepção transforma radicalmente nossa visão acerca da vida, da igreja, de nós mesmos, dos outros, de adoração.
     A segunda coisa que deveriam fazer era não se moldar ou se conformar ao mundo. Uma vez que Paulo mostrou a maneira de viver do mundo ainda no capítulo um, onde os homens substituíram (literalmente “afogaram”) a verdade de Deus e substituíram pela mentiram. O mundo vive guiado por uma natureza que despreza o criador. Aquele que agora foi resgatado por Deus para viver em novidade de vida não deve mais seguir os padrões de sua velha maneira de viver, mas viver de acordo com a nova criação que há de vir, se transformando pela renovação da mente. Isso fala não de mudanças externas, mas da essência do ser.
     Paulo acrescenta um motivador: “para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”. Vemos que o desejo humano é alcançar a satisfação plena, a felicidade, contudo ele não abre mão de fazê-lo por seus próprios meios, seus próprios caminhos. No entanto, a felicidade só é alcançada no próprio Deus, seguindo a maneira de Deus de pensar e fazer as coisas. O problema do homem é ele vive uma vida centrada em si mesmo. Deus, no novo nascimento, desfaz a egolatria humana, mudando a essência interior e torna Cristo o centro de nossa vida.
     12.3: Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não tenha de si mesmo mais alto conceito do que convém; mas que pense de si sobriamente, conforme a medida da fé que Deus, repartiu a cada um.
     Observemos que Deus elogiou Jó exatamente por buscar a Deus e desviar-se do mal. Em essência, é o mesmo que Paulo aqui. A felicidade só é alcançada em Deus, mas o homem rejeita a Deus e põe a si mesmo no lugar. Por isso Paulo se utiliza do encargo recebido por Deus para dizer que não sejam assim, pois, se isso faz o homem não pensar em Deus nas coisas que pensa, diz e faz, também não o fará em relação a seus semelhantes. Se Deus é desprezado, as pessoas também serão. Os cristãos devem pensar menos de e em si mesmos e agir de acordo com a fé recebida de Deus.
     Isso é confirmado em outras passagens como Rm 12.6b: “não seja sábio aos seus próprios olhos”. O Salmo 19.13 diz: “Também de pecados de presunção guarda o teu servo, para que não se assenhoreiem de mim; então serei perfeito, e ficarei limpo de grande transgressão”. Cada um deve ter um espírito humilde para se deixar conduzir e governar por Deus.

     12.4-5: Pois assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma função, assim nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e individualmente uns dos outros.
     Os versículos 4 e 5 confirmam o que comentei acerca do versículo três. Porque Paulo diz que nosso ego deve ser controlado por Deus? Porque Ele nos constituiu um só corpo. Paulo faz uma analogia entre a igreja e o corpo humano, como fez também em 1 Coríntios 12  e Efésios 4. Aprendemos algumas coisas com isso:
     1. Se somos corpo de Cristo, somos suas mãos, seus pés, seus olhos, etc., ou seja, é por meio de nós que Cristo age no mundo. Somos seus instrumentos. Acerca disso sugiro que ouçam a música “if we are the body” da banda “casting crowns”.
     2. Não somos guiados por nós mesmos, mas pela cabeça, que é Cristo. Ele é quem comanda toda ação dos membros de Seu corpo. Um membro que não recebe ou não obedece o comando enviado pelo cérebro demonstra grava distúrbio.
     3. Estamos todos ligados uns aos outros por meio de Cristo, portanto, somos membros não só de Cristo, mas uns dos outros. Em outras palavras, não servimos apenas a Cristo, mas, em conseqüência, uns aos outros. Basta ver o que Paulo diz no segundo capítulo da carta aos Filipenses.
     12.6-8: De modo que, tendo diferentes dons segundo a graça que nos foi dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com zelo; o que usa de misericórdia, com alegria.
     Há alguns ensinos importantes aqui:
   1. Devemos nos conhecer, saber de nossas capacidades, habilidades, e não invejar a dos outros.
  2. Os dons não provenientes de mérito humano, mas são dádivas de Deus. Não devemos desprezá-los, mas desenvolvê-los;
   3. A grandeza dos dons não está ligada à sua visibilidade, mas à sua utilidade em servir (1 Co 12-14).
   4. O objetivo dos dons não é se destacar ou ser recompensado. Deve-se exercê-lo com dedicação, alegria e liberalidade para glória de Deus e para servir aos irmãos.
  5. O dom não substitui o esforço, nem o esforço é o mesmo sem o dom. Deus concedeu dons para usarmos, ao mesmo tempo devemos usar da melhor maneira possível.
     Conclusão:
     Aqui encerro minhas observações dizendo que a conseqüência da salvação não é meramente ir para o céu, como se costuma colocar, mas fazer de nós nova criação. Essa nova criação já revela um pouco de como será a nova criação de todas as coisas mostradas, por exemplo, no final do livro de Apocalipse.
    Uma vez que fomos regenerados, devemos viver em novidade de vida. Essa novidade de vida se desenvolve quando passamos a nos relacionar com Deus, e em conseqüência, com as pessoas, não de acordo com o modo egoísta e individualista do mundo, mas da maneira de Deus. Fazemos isso, dentre outras coisas, utilizando os dons que Deus nos deu com alegria, liberalidade e dedicação para a glória de Deus e para servir aos irmãos.
     Deixo aqui duas indicações de leitura: Renovação do coração, de Dallas Willard; e Finalmente Vivos, de John Piper.
    Conforme, inspirado por Deus, nos orientou o Apóstolo Paulo: “Assim, pois, sigamos as coisas que servem para a paz e as que contribuem para a edificação mútua” (Rm 14.19).

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