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Este é nosso para falar do que gostamos. A vida, os amigos, teologia, mundo eclesiástico, poesia, música. E eventualmente, do que não gostamos. Desvios da igreja, da doutrina, pósmodernidade...

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O que se dizer quando se perde um amigo?


O que dizer quando se perde um amigo? E quando se trata do seu melhor amigo? A reposta? Não sei. Não sei mesmo. Digo isso porque ontem, 01/05/2012, perdi meu melhor amigo.
            Conheci Oslan quando passei a me congregar na Missão Evangélica Pentecostal do Brasil (MEPB) de Jardim Floresta, na Zona Norte da cidade de Natal, em novembro de 2006. Esse mineirinho se tornou muito especial para mim no decorrer do tempo.
            Nós tocávamos juntos no grupo de louvor da igreja. Ele era o baterista, eu, o tecladista. Tornamo-nos muito próximos com o passar do tempo. Estávamos sempre juntos: nos ensaios, nos cultos, nos lanches, jantares, nas rodas de bate-papo.
Minha aproximação com o presbítero João “da Bênção” tornou ainda mais próxima nossa convivência. Oslan namorava (e recentemente noivara) com Ruth, filha de João, e eu vez por outra estava com minha esposa, Simone, com João, por isso estava com Ruth e, por conseqüência, com Oslan. Desde fevereiro João e eu passamos a apresentar um programa na rádio, nos domingos à noite. Por isso, depois do culto, íamos à casa de João esperar a hora de ir para a rádio. Oslan sempre ia para lá também e, frequentemente, comíamos cachorro-quente lá próximo.
“Perder”, que palavra desagradável, especialmente quando falamos de alguém. Nunca poderei esquecê-lo, porque tive o privilégio dado por Deus ser seu amigo, verdadeiro amigo, mais que amigo, verdadeiro irmão, o irmão que nunca tive (tenho duas irmãs).
Estive no domingo com ele e Ruth. João viajara para São Paulo e pedira para eu ficar na congregação dele no domingo (Jardim Petrópolis). À noite Oslan e Ruth estavam conosco no culto. Ruth cantou, eu preguei. A pregação..., como poderei esquecer da pregação? Não quero lembrar, por isso não escreverei, mas o que eu preguei parecia anunciar o que aconteceria com ele e conosco, nunca esquecerei de certas palavras que pareciam proclamar a maneira como ele morreria (afogamento).
Estou no trabalho e esse escrito é para me ajudar a extrapolar o que estou sentindo, nem sei se mostrarei a alguém ou apenas deletarei ao final, mas acho que está me ajudando nesta hora. Nem sei se ainda restou alguma lágrima para ser chorada.
Saber que falta ele fará me destrói e neste momento a minha fé e esperança não trazem conforto algum. Minha confiança em Deus não diminui a dor. Eu rogo para que Sua graça e paz inundem meu coração. Como eu, muitos outros choram, Foi um irmão que se foi (sei que Deus o levou, mas me perdoem, por hora não posso expressar senão com “se foi”, porque é isto que sinto), um filho que deixa seus pais desolados, um noivo que deixa sua noiva sem saber como continuará conseguindo viver.
Como conseguirei tocar novamente em minha igreja, principalmente se a bateria continuar lá?! Próximo de começar o culto fúnebre fui montar o teclado, parei várias vezes dominado pela dor. Como eu queria tocar! Lembrar de ter tocado em seu velório seria algo bom para lembrar, mas não consegui.
Domingo, depois do programa na rádio eu iria buscar João no aeroporto. Oslan e eu fomos abastecer antes o carro e eu ia lhe aconselhando, como sempre fazia quando tinha oportunidade. Ele quase nunca contava seus problemas para mim, era um sujeito muito fechado, do tipo que agüenta calado (via muito de mim nele), mas bastava olhar nos olhos dele eu percebia que algo estava acontecendo. Não tenho essa habilidade de percepção com ninguém, mas com ele, por algum motivo, eu tinha. E novamente lhe aconselhei. Será uma lembrança que carregarei para sempre, não quero perdê-la, quer ela me faça sorrir, quer me faça chorar.
22 anos, foi com esse tempo de vida que ele foi chamado pelo seu Senhor. Sei que conhecerei pouquíssimas pessoas como ele. Pessoa alegre, de caráter, sempre bem disposta, sincera, amigo, temente a Deus, dentre tantos adjetivos que eu poderia dizer e que aqueles que o conheciam podem bem corroborar.
Até logo meu amigo, meu irmão, você era o melhor amigo que eu tinha (que me perdoem os outros). Se o Senhor o queria mais perto dEle, fico satisfeito e grato por ter sido abençoado com sua amizade nesses anos. Saiba que, embora sua partida para o descanso deixe muuuuuuita dor, a alegria que sua vida nos transmitiu por fim a superará, ainda que demora, sei que um dia poderei lembrar de você e sorrir, porque agora só consigo chorar. Sinto muito, como eu estava feliz em ser o padrinho do casamento que estava por vir.
Peço que não faça críticas a esse texto, pois não é um texto, mas pranto que jorra de meu coração. A única morte em que chorei foi de um amigo, uns 15 anos atrás, nem antes nem depois chorei por mais ninguém além de você, Oslan. Nem por meus tios, nem minha avó ou bisavó, mas você é mais que um irmão.
“O Senhor o deu, e o Senhor o tomou, bendito seja o nome do Senhor”.
“Aceitaremos o bem do Senhor e não também o mal?”.
“E ele andou com Deus, e Deus para Si o tomou”.
Até logo, Oslan, meu irmão. Quando eu chegar aí vamos fazer um som legal pro Senhor. Desculpe não ter conseguido ir ao seu sepultamento, mas o culto já me despedaçou, não posso ir porque “não aprendi dizer adeus”.
Natal, 02/05/2012
Reniê Pereira Abel